23 agosto 2010

Artigo: Cannibal Ferox (1981)




Hoje irei falar de uma interessante (e grosseira, assim dizendo) obra italiana de terror dos anos 80: Cannibal Ferox, do diretor Umberto Lenzi.

Antes de começar a falar sobre este polêmico filme, vou dissertar um pouco sobre o que podemos chamar de "ciclo canibal italiano". Movimento esse que teve início na década de 70, começando pelo próprio Lenzi, com seu 'Il Paese del sesso selvaggio',
de 1974. Mas esse chegou ao ápice quando Ruggero Deodato realizou dois dos mais importantes filmes do gênero, 'Ultimo Mondo Cannibale' de 77 e 'Cannibal Holocaust' de 79, sendo esse seu mais famoso filme, e o que desencadiou dezenas de "cópias".

Bom, Cannibal Ferox marca o fim desse clico canibal, mas não sendo esse o único motivo da fama que o filme leva. De fato, a violência é a grande responsável, e disso o filme tem muita, sendo considerado por muitos como o filme mais violento já feito.
O mais violento ou não, Cannibal Ferox é realmente violento, extremamente gráfico e grosseiro. Mas agora, é um bom filme? De um modo, não o considero um bom filme, este mesmo contendo um roteiro mal trabalhado, direção fraca, atuações medíocres... enfim, um festival de bobagens que só é ofuscada pelas violentas cenas, que são o único atrativo da obra, digasse de passagem.

O filme começa mostrando o assassinato de um comprador de drogas, que é morto por dois mafiosos (um deles sendo interpretado por Perry Pirkanen, que em outros momentos melhores interpretou o cinegrafista de Cannibal Holocaust e o coveiro de Paura Nella Cittá Dei Morti Viventi) que estão a procura de Mike Logan, que lhes deve uma grande quantia em dinheiro.Neste momento, o cenário muda da cidade grande para a floresta Amazônica, mais precisamente no Paraguai, onde um grupo de 3 jovens estão em busca de uma vila chamada Manioca, lugar onde uma das jovens deseja realizar pesquisas para sua conclusão da tese. Esta tese tem justamente o intuito de comprovar que o canibalismo é um mito social, e que não existe ou nunca existiu, preconceito adquirido pela sociedade "civilizada".
Resumindo: Eles logicamente se perdem a procura de tal vilarejo indígena, caso contrário não teríamos filme.E é nesse momento onde nossos heróis encontram Mike Logan (aquele na qual os criminosos estavam procurando), fazendo com que a trama secundária tome sentido.

Apesar de conter elementos que dariam uma boa trama, o roteiro é mal trabalhado ao longo do filme, e são em momentos como esse (em que as atenções voltam-se para a cidade) que é notável o quão perdida é a direção.As atuações são de médias a péssimas, principalmente em cenas onde uma atuação melhor faria a diferença, como por exemplo, quando Logan começa a abusar de dois índios, e mata cruelmente uma sem motivos, ou quando outro índio morre em uma armadilha.
Agora, o que realmente faz de Cannibal Ferox um filme que, diga-se de passagem, merece ser assistido? A violência chocante e gratuita.
Como muitos dos filmes do ciclo canibal, Cannibal Ferox é recheado de cenas onde animais são brutalmente mortos, com o único propósito de chocar aquele que assiste. Para ter noção de quão gratuitas algumas delas são, há uma absurda e grotesca cena onde uma das jovens cai em uma armadilha, um buraco no chão, ficando presa junto com um porco. É então que Logan (o ator que o interpreta se recusou a realizar tais atos, sendo gravada somente sua expressão e a mão de outro) desce no buraco e antes mesmo de ajudá-la, desfere crueis facadas no pobre porco, que, mesmo tal cena sendo rápida, não deixa de ser bizarra e cruel.
Temos ainda um quati sendo morto por uma cobra, uma tartaruga (cena imitada de cannibal holocaust, mas menor), um jacaré e outros animais sendo assassinados em frente as câmeras.

As mortes envolvendo seres humanos não devem nada no quesito crueldade, e são tão grotescas quanto (a diferença é que essas são feitas a partir de maquiagem). Entre elas vale destacar uma das mulheres sendo suspense por ganchos nos seios (é engraçado ver como os índios utilizam certas ferramentas do tipo...) e uma cabeça sendo aberta com um facão, e o cérebro do "pobre" homem branco sendo devorado.Há outras bem mal-feitas, como um homem sendo aberto com uma lança, onde é claramente visível o sangue falso saindo da lança.

Outra parte que me chamou atenção foi a forma preconceituosa com que os personagens do filme tratavam o Paraguai, local onde supostamente eles encontrariam a vila dos canibais, brindando o espectador com falas como: "Eu pensei que Paraguai fosse uma cidade de verdade" ou até mesmo: "Como se soletra Paraguai?".

Em relação a suposta mensagem que o diretor Lenzi queria passar para o público com seu filme, ela é bastante semelhante a de outros filmes do gênero, como Cannibal Holocaust, onde põe-se em discussão "quem serão realmente os canibais?".

A diferença é que aqui o diretor simplesmente joga isso na cara de quem o assiste, mostrando o quão óbvio é errado o fato dos ditos humanos civilizados explorarem os indígenas.
Apesar de ser uma idéia extremamente relevante, a forma com que ela é transmitida e os argumentos do diretor acabam não funcionando. Isto é, ao longo do filme, quem assiste até esquece do mal causado pelos "bandidos", tamanha a violência com que eles são tratados pelos canibais. Vale apontar também que a maioria das mortes é gratuita, pois foi praticamente só Logan que cometeu barbárie contra os índios, enquanto todos tiveram que pagar pelo seu erro.

Minhas considerações finais são de que Cannibal Ferox funciona como um filme que choca, principalmente por ser muito gráfico e grosseiro, mais até que Cannibal Holocaust, mas não utiliza da melhor forma o roteiro que possui, além de não apresentar nada de novo pra época, apenas uma repetição de fórmulas já utilizadas.



Artigo escrito por Andrigo dos Santos Rosa
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