30 julho 2010

Artigo: A Trilogia da Vingança de Chan-wook Park: Mr. Vingança,Old Boy e Lady Vingança.

O cinema oriental é uma das indústrias mais importantes e influentes da atualidade e contribui fortemente para a evolução do modo como diferentes situações devem ser retratadas. Chan Wook Park é apenas um pequeno exemplo da massa criativa que se expande por todo o mundo, forçando uma renovação (diria revolução) cinematográfica. Park conseguiu, ao longo de três anos, construir uma trilogia de tema único – vingança – que prova até onde um ser humano pode chegar movido apenas por ódio e rancor.

Em Sympathy For Mr. Vengeance, Old Boy e Sympathy For Lady Vengeance, a visão madura de Park sobre o impacto de suas histórias transcende o apelo à violência desenfreada, sem motivos. Está mais para um estudo meticuloso do temperamento humano e das conseqüências que aquele personagem sofre por seus atos. Mr. Vengeance é o filme que melhor representa o descontrole de uma pessoa em diversas situações. Ryu, por exemplo, não mede forças para restaurar a saúde de sua irmã, enquanto Dong-jin, cego pelo ódio, visa apenas acabar com aqueles que deram fim a vida de sua filhinha. Um circulo de ódio e amor que se repete nos três filmes, mas se torna muito eficaz na situação de Mr. Vengeance. Talvez por ser o longa mais movido ao acaso, sem longos períodos para a elaboração de planos de vingança.

Old Boy, pelo contrário, ganha notoriedade por sua complexibilidade nos planos criados por um homem misterioso, capaz de confinar e vigiar um ser humano durante 15 anos, para libertá-lo apenas com o propósito de destruí-lo. É a beleza de um plano bem realizado. A vingança precisa por natureza de algo que a torne atrativa e satisfatória para quem a executa. Seja em um jogo de gato e rato cheio de enigmas, seja na simples realização exata de como o ato é vislumbrado.

Lee Geum-ja, de Lady Vengeance, chega a construir uma arma própria para o grande dia do acerto de contas. Condenada por um crime que não cometeu, Geum-ja é prova de que no mais puro dos corações, o ódio consegue transformar tudo em impressões. Durante todo o filme somos levados a adorá-la e temê-la por seus atos.

O contexto pesa bastante nas histórias de Park e isso valoriza a ambigüidade de nossos sentimentos diante dos dilemas de cada personagem. Afinal, Ryu, de Mr. Vengenace, além de surdo-mudo, é um homem batalhador e visivelmente desesperado pela situação da irmã; Lee Woo-jin, em Old Boy, teve fortes motivos para os atos que cometeu; apenas Mr. Baek, de Lady Vengeance, não consegue apresentar uma dualidade de caráter forte o bastante para cativar o espectador. Aliás, Baek é o mais fraco dos personagens apenas por não estabelecer esta relação. Todos os outros personagens de cada filme possuem algo que nos agrada. Provavelmente por Baek ser uma personificação mais intensa das maldades que um ser humano é capaz.

As histórias simples ganham tanta força no estilo de montagem e na direção arrebatadora de Park, que a violência vem como um “mal necessário” para toda aquela pintura contemporânea de caráteres. De planos à fotografia, é como se cada elemento tomasse para si uma parte da trama. Como a abertura de Lady Vengeance na qual uma roseira negra espalha-se como tatuagem na pele branca de uma mulher (interpreto como o ódio que se espalha pela pureza branca, ornamentado pelos belos planos de vingança – as rosas) ou nos momentos de “cinema mudo” quando Ryu tenta estabelecer diálogo (a sensação de desolamento presente sempre).

Um comentário interessante de Park durante uma entrevista com Daniel R. Epstein sobre essa trilogia é, no mínimo, interessante: “A medida que faço mais e mais filmes, em entrevistas que dou surgem perguntas como “Que tipos de sonho você tem?”, “Como foi a sua infância?”, “Houve algo que aconteceu na sua vida a ponto de fazer você ter esse ardor por vingança?”. Às vezes me sinto como se estivesse sendo interrogado pelo FBI. Então eu gostaria de dizer que nada em meus filmes é pessoal. Eu não tiro nada da minha vida pessoal.” Será que é preciso ser um Tarantino para fazer filmes doentios excepcionais?

Texto retirado de Playrec.

1 comentários:

lljimae disse...

fique muito contente com este firme

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