Ressuscitando esta minha humilde coluna aqui no“A terça parte”. E um texto de retorno não merecia nada menos que um filme que é figura carimbada em qualquer lista de piores da história. Estou falando, de Robot Monster de 1953.
Pra começo de conversa, descobri o filme acessando alguns fóruns onde o tema era: “Os piores filmes de todos os tempos”. Esse filme era citado tão freqüentemente quanto pesos pesados como “Plano 9 do espaço sideral” (1959) e “Manos: Hands of fate” (1966) . Li algumas críticas do filme na internet, que também o execravam como o pior da história, ou pelo menos um dos piores. Chegaram a dizer ser pior que todos os filmes de Ed Wood juntos(!), o que é um feito e tanto, já que além do famoso “Plano 9”, o diretor lançou “clássicos” como: “A noiva do monstro” (1955) e “Glen ou Glenda” (1953), este ultimo eu considero ainda pior que “plano 9”. Sem contar que Robot Monster tem nota 2 no IMDB.
Fiquei extremamente entusiasmado com a possibilidade de encontrar um filme “a altura” das pérolas de Ed Wood, ou do meu trash favorito “Manos”. A sinopse é promissora: Ro-Man, um alienígena da Lua quer dominar a Terra para o imperador do Universo e para isso se utiliza de uma máquina superpoderosa capaz de enviar raios calcinadores a todas as cidades, aniquilando-as. Misteriosamente ele conserva apenas uma família de oito pessoas para estudo. Ao mesmo tempo renascem dinossauros e outros monstros pré-históricos, que se debatem violentamente em lutas mortais, tudo em meio a enormes cataclismos geológicos.
Vamos começar por alienígenas lunares, pode ser bem engraçado hoje em dia, mas eram até bem comuns no sci-fi pré 1969. Mas o que diabos são raios calcinadores? Ele destruiu todos os habitantes da terra, ai resolveu estudar uma família de 8 pessoas? Mas que diabos? Monstros pré-históricos renascendo em conjunto com uma invasão alienígena? Eu realmente preciso assistir a esse filme!
Ao final dos 65 minutos do filme um sentimento predominava em mim, decepção. O filme de maneira nenhuma pode ser considerado tão ruim quanto “Manos”, ou pior que a maioria das obras de Ed Wood. O filme é sim muito ruim, o conceito é ridículo, a fantasia do extraterrestre é indefensável, mas de maneira nenhuma ele deveria figurar entre os piores da história, que dirá como o pior.
Acredito que a maioria dos “críticos” que escreveram sobre o filme não o assistiu realmente, bem como aqueles que escreveram sua sinopse. O filme começa com uma seqüência de créditos iniciais (sério mesmo?), que apresenta George Nader interpretando Roy, a bonita Claudia Barret interpretando Alice, Selena Royale interpretando a mãe, John Mylong interpretando o professor, o insuportável Gregory Moffett interpretando o insuportavel garoto Johhny, e a garotinha Pamela Paulson interpretando Carla. George Barrow é apresentado como “Ro-Man: the monster”. Em meio a algumas informações sobre a equipe técnica, os créditos dedicam espaço a um agradecimento especial para N.A Fisher Chemical Products, por ceder a “Automatic Billion Bubble machine”. Por esses créditos iniciais já da pra ter uma idéia da profundidade dos personagens, dois dos protagonistas simplesmente não possuem nomes, e o nome mais longo é Johhny, com seis dígitos.
Após esse começo promissor, o filme mostra o garoto Johnny, que é o mais próximo de um protagonista no filme, brincando com um capacete que é uma máquina de fazer bolhas (dãã). Ele encontra a pequena Carla, e ambos andam até encontrar a dupla de “arqueólogos”, Roy e o “professor” (hahaha). Eles estão retirando alguns desenhos pré-históricos das paredes de uma caverna, para poder levá-los até um museu, pelo menos é assim que Roy resume o trabalho de um arqueólogo. É claro que o a dupla de arqueólogos não se importa que as crianças brinquem com eles enquanto eles trabalham, afinal, desenhos pré históricos são encontrados em qualquer caverna.
Nesta cena inicial já se percebe o amadorismo do elenco, não chega a ser tão ruim quanto o já um milhão de vezes citado “Manos”, mas as atuações são bem fraquinhas. Percebe-se também um interessante trabalho de fotografia, e um trabalho de câmera mediano, mas nada preguiçoso. O roteiro já se mostra horroroso e só piora no decorrer do filme.
Alice logo aparece para cortar o barato dos moleques, e os leva para um piquenique. Quando todos os participantes do piquenique vão tirar uma soneca, Johnny volta correndo para a caverna. Os arqueólogos não estão mais lá, e Johnny acaba tropeçando e batendo a cabeça. Luzes começam a piscar na tela (representando uma espécie de raio), e um raio de luz parece atingir a terra, um corte rápido e nos deparamos com uma dupla de “crocodilos pimpados” brigando em uma região montanhosa. Seguido de um rápido take em stop-motion de um conflito entre dois “Torossauros”
O garoto Johnny acorda, e agora na caverna há alguns “equipamentos”, como antenas, caixas de som e uma maquina de fazer bolhas (!), que futuramente se revelarão a “maquina energizadora”, maquina que da a Ro-Man a localização de qualquer ser humano vivo na terra. Não fica claro se esta é também a maquina responsável pelos raios calcinadores. Johnny se esconde na entrada da caverna ao ouvir alguns raios, é então que aparece o vilão do filme, o extraterrestre Ro-Man.
É praticamente impossível segurar o riso na primeira aparição de Ro-Man. O tal extraterrestre, não passa de um dublê trajando uma bagaceira fantasia de gorila(!) e usando um capacete com duas antenas(!!).
Ro-Man se comunica com seu superior, o grande guia de todos os “Ro-Man” (que é exatamente igual ao Ro-Man que está na terra). O grande guia revela que não foi encontrada vida em qualquer outro planeta, que a terra é o único inimigo. O Ro-Man terrestre reporta ao grande guia como fez para reduzir a população a +00 (que é o mesmo que zero para nós, estúpidos terráqueos). O grande guia informa que ele está errado, e que ainda existem 8 humanos vivos na terra, e manda que Ro-Man termine o serviço.
Johnny corre e encontra sua família, que são praticamente todos os sobreviventes na terra. O professor explica que construiu uma maquina que desvia os mortais raios de Ro-Man da sua casa, por isso ele ainda estão vivos. Mas como o garoto que estava desmaiado em frente a caverna de Ro Man não morreu? Como o extraterrestre ocupou a caverna sem notar o menino? Alguém realmente se importa?
A família passará o resto do filme tentando sobreviver a Ro-Man, que passará o resto do filme tentando capturá-los e matá-los. Eu não quero contar muito mais sobre o filme, para não tirar a vontade de alguém que queira assisti-lo, ou diminuir o “divertimento trash”.
O filme definitivamente não merece a fama de pior da história. É verdade que o filme é muito ruim, eu diria que é impossível contar o número de erros de continuidade e furos de roteiro, mas é um exagero defini-lo na alcunha de pior de todos os tempos. Eu mesmo já devo ter assistido a uns três filmes piores este ano.
Filmes como “Manos”, “Glen ou Glenda”, “Ratos: A noite do terror” (1984) e “Troll 2” (1990); não possuem qualquer qualidade assinalável, sendo indefensáveis, por isso podem ser considerados o pior da sétima arte. Diferente de “Robot Monster”, que possui um interessante trabalho de fotografia e uma trilha sonora excelente, sim, eu disse excelente. É uma bela trilha composta pelo gigante Elmer Bernstein, que coleciona nada menos que 11 indicações ao Oscar, além de já ter levado uma estatueta. Além do que, o final do filme justifica a maioria dos erros de continuidade ou a falta de lógica existente na maior parte da película (só vendo para entender do que estou falando).
Reafirmo, que muitos dos que criticam o filme, nem ao menos o assistiram direito. Li muitas resenhas que diziam que o extraterrestre não consegue matar os terráqueos remanescentes, pois se apaixona pela humanidade. Bem, isso não é verdade, o extraterrestre mata impiedosamente, a maioria dos sobreviventes, só reluta em matar Alice, pois nutre desejos sexuais pela moça. Li também que os dinossauros do filme são “fruto do pior stop-motion da história do cinema”. Falácia, as poucas cenas em stop-motion são até bem realizadas.
Muito do que se fala do filme na internet é mito. Li em algumas fontes que o filme havia sido um fiasco nos cinemas, que não teria arrecadado nem seu ínfimo custo, que muitos dos envolvidos entraram em depressão após as filmagens, alguns chegando a cometer suicídio. Na verdade o filme arrecadou 1 milhão de dólares, nada mal para um filme rodado em 4 dias com um custo de 16 mil dólares. E os envolvidos nas filmagens seguiram suas carreiras tranquilamente, fora do cinema ou não.
Não me entendam mal, o filme é horroroso. Os personagens são rasos como poças de água, além de tomarem atitudes completamente estúpidas e irracionais. Destaque para a cena do casamento entre Roy e Alice, essa sim deve figurar entre uma das piores cenas da história do cinema. E o que você acha de sair em lua de mel quando há um extraterrestre indestrutível ao seu encalço? Não parece uma má idéia para nenhum dos personagens de Robot Monster.
Recomendo Robot Monster pela experiência, e principalmente para encontrar alguém que partilhe da mesma opinião que eu sobre o filme, pois pra mim, ele não passa de uma grande decepção.
Ano de lançamento: 1953
Direção: Phil Tucker
Roteiro: Wyott Ordung
Produção: Three Dimension Pictures
Luiz Gustavo kiesow
5 comentários:
Kiesow, meu brother, eu simplesmente amo esses artigos da sessão cine trash! Maravilhoso! Me interesso muito por obras à margem, filmes desconhecidos, e por aí vai. Esse aqui eu vi há pouquíssimo tempo, então seu texto foi providencial, enquanto a obra ainda está fresquinha aqui. Parabéns!
Como fazer o download?!!
Obrigado pelo comentário, como sempre Luiz!
Aos leitores que questionam o link para download, estou tendo alguns problemas ultimamente para "upar" os filmes, estou devendo inclusive o link para "mangue negro". Mas garanto que ambos logo serão disponibilizados aqui no blog....
Abraço!
Que coisa feia...
Eu chamei Ro-Man de "marciano" a primeira vez por piada, depois esqueci e simplesmente fui chamando um extraterrestre da LUA de Marciano!
Só deixando claro que a maior parte não foi proposital..., foi gafe mesmo xD!
Caro Kiesow. Como cinéfilo, com uma coleção razoável, e com uma bagagem meia-colher em produções, eu simplesmente "viajo" quando assisto antigos trashes. Curto mais do que se fossem filmes "oscarizados". E concordo com vc em cada letra de seu comentário sobre o Robot Monster. Minha única mágoa é que assisto sozinho as sessões de trashes e clássicos, porque sou o único apreciador em casa, e dai a importância maior em ler comentários de colegas apreciadores desse gênero. Obrigado. Jota Ricio
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