02 janeiro 2011

Artigo: Glauber Chatos e o Modismo no Cinema


Nos próximos parágrafos a palavra “cult” se repetirá incansavelmente.

Olá, sou Luiz Gustavo e este é o meu primeiro post aqui no “A Terça Parte do Cinema”. Escreverei aqui artigos e críticas sobre filmes que julgo que devam ser conferidos por algum motivo. Este meu primeiro texto fugirá um pouco da linha dos demais. Começar com este artigo talvez não seja a forma mais inteligente ou até mesmo a forma mais adequada de “estrear” neste blog, pois o artigo pode ser considerado um pouco ofensivo com um público em especifico. Deixando as apresentações de lado vamos ao artigo propriamente dito.

Não existe nada mais irritante no universo cinematográfico que o modismo, e eu não estou falando dos filmes idolatrados por pré-adolescentes na atualidade, falo de um gênero de produção que é idolatrado por pessoas cultas (ou que se julgam cultas). Se a adoração é verdadeira não existe reclamação de minha parte, o problema é que existe um grande número de pessoas que mesmo não gostando, ou até mesmo desconhecendo determinado gênero faz questão de elogiá-lo e defendê-lo com unhas e dentes para poder se integrar ao meio “cult”.

É cult gostar de cinema oriental, é cult gostar de cinema argentino, está se tornando cult gostar de “filmes B” e, em todo o Brasil, é cult idolatrar Glauber Rocha.

De maneira nenhuma estou criticando esses gêneros, eu mesmo sou um amante de filmes B por exemplo, o que irrita é que se você fugir dessas tendências você será considerado um completo ignorante. Eu honestamente acredito que 50% dos fãs de Glauber Rocha pensam o mesmo que eu sobre esse diretor. Não entendo como se iniciou a beatificação deste cineasta. Para mim, ele foi o pior representante do “cinema verité” no Brasil e no mundo.

Como aqueles filmes confusos e caricatos poderiam agradar à um público tão vasto e exigente? Contorcia-me na cadeira quando ouvi em uma amostra de cinema, uma comparação entre a linguagem metafórica de Glauber Rocha em “Deus e o diabo na terra do sol” e a linguagem utilizada no excelente “outubro” de Sergei Eisenstein . Acho que os filmes do brasileiro são, tecnicamente e intelectualmente falando, muito ruins.

Mas minha opinião não é absoluta e talvez eu apenas não tenha inteligência o suficiente para admirar Glauber Rocha, mas como já disse anteriormente, acredito que muitas pessoas pensam como eu e apenas não admitem, temendo criticas negativas.
Glauber Rocha é apenas um exemplo genérico, existem muitas tendências no cinema atual, se essas tendências iram perdurar ou não só o tempo poderá responder.

As tendências do momento:
Algumas coisas que estão virando moda na sétima arte.

Cinema oriental:
Diferente dos roteiristas norte americanos, os roteiristas do velho continente não param de surgir com histórias inteligentes e intrigantes, o resultado é a crescente onda de “remakes” americanos de filmes orientais. Parece que o mercado de Hollywood acha que é mais fácil comprar os direitos e refilmar um filme do que simplesmente legenda-lo.

Filmes Trash:
O “cinema B” sempre teve um número muito restrito de adoradores, mas por alguma razão cada vez mais se encontram pessoas que adoram procurar e assistir produções obscuras e de baixo orçamento. Trash vêm se tornando sinônimo de cult.

3D:
Tendência que contagiou produtores no mundo inteiro algo parecido com que aconteceu com o efeito “Bullet time” após o lançamento de “Matrix”. Está se tornando obrigatório filmar em 3D, até mesmo filmes que não fariam nenhum sentido nesse formato. Espero de verdade que os produtores do mundo inteiro saibam usar esse interessante recurso com moderação.

Cinema argentino:
Ainda não é, mas tenho certeza que vai se tornar uma febre entre os cults e pseudo cults brasileiros. O cinema argentino está anos luz a frente do cinema nacional, e com o Oscar, que muitos dizem ter sido injusto, entregue à “O segredo dos seus olhos” o cinema dos hermanos só tende ao desenvolvimento.

E assim termina meu primeiro texto (ou seria desabafo?) aqui neste blog, sendo um pouco prepotente, espero que meu texto ajude as pessoas a desenvolverem o senso crítico, e que não tenha desagradado a muitos.
Até o próximo.

P.S: Como li em um lugar uma vez: “Decorar meia dúzia de criticas cinematográficas não faz de você cult, faz de você um idiota”.

12 comentários:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Olá, Luiz Gustavo, meu meio-chará!

Sou editor do Cinebulição, blog parceiro desta terça parte do cinema, e acabo de ler teu texto com um misto de sentimentos...

Primeiro: parabéns pelo olhar em relação aos modismos. E o mais legal foi a sua abordagem em relação aos que "gostam por tabela" de coisas que uma massa de cinéfilos gostam. Isso tem de monte, e também me irrita muito.

Outra coisa que me deixou bem feliz foi a sua desmistificação do Glauber. Mas aí começamos a divergir. Você disse que ele é o pior dentre os veritè. Não sei não. Eu acho mais caricato o povo do verdade norte-americano do que o Glauber. O que me incomoda nele é o discurso viciado, e aqui falo como historiador. Ah, eu tenho vontade de amarrar cordas no pescoço quando começa a repetição da mesma ideia com bases viciadas, exemplos bem chavões, etc. Mas isso não engloba 100% dos filmes do baiano, e uma parcela eu acho muito boa.

Depois, você disse que (citarei literalmente): "Acho que os filmes do brasileiro são, tecnicamente e intelectualmente falando, muito ruins.". Aí é o nosso ponto de briga crítica. Não concordo. Absolutamente não concordo. Você não citou um período específico, mas nós tivemos sempre um gato pingado que fizesse coisas muito boas por aqui, e que não deixam em nada a desejar com o cinema estrangeiro. Ou você realmente acha que não há apuro técnico no trabalho do Person (e me diga se ele perde para o De Sica, por exemplo!), que não há perfeito uso estético de câmera e tempo no trabalho do Sganzerla (e me diga no que ele é inferior ao Ruiz, ao Rosi, ou ao uso de câmera do Zurlini)... Veja um Eduardo Coutinho e me diga que Chris Marker é um Deus perto dele! Não, não é. Eu gostaria de desenvolver melhor isso com você, entender sua posição. Mande seu e-mail pot comment aqui no Cinebulição, ok?

Eu queria falar do cine argentino e do trahs, mas deu preguiça e esse comment já está longo demais. Espero conversar com você depois sobre o impasse daqui, rapaz.

É isso.

Abraço.

kiesow disse...

Caro amigo Santiago...

Não sei se compreendi o seu texto, mas acho que você não compreendeu o meu. Eu disse que considero o trabalho de Glauber Rocha tecnicamente ruim não dos cineastas brasileiros em geral. Glauber Rocha parece (pelo menos nos filmes que assisti confesso que não assisti todos), ter faltado às aulas mais primarias de cinema. Câmera desfocada, trêmula e que parece refletir toda a luz ambiente. Para mim, essa incompetência fica explicita quando em Deus e o Diabo na terra do sol mal se sente a presença do sol, o que vemos é uma terra coberta por um céu nublado sob o desfoque da câmera do Baiano.

Sou um amante do cinema nacional, talvez por isso não goste de Glauber Rocha, acho que existem dezenas de outros que contribuíram substancialmente para o cinema e sequer são lembrados, Enquanto que rocha esta na ponta da língua de qualquer apreciador do cinema nacional.

Espero que eu tenha compreendido o motivo do "impasse", se for isso espero que tenha esclarecido.

Abraço.

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Ô, rapaz, agora sim. Entendi. Tive um grande susto, confesso. Mas entendi sim.

Deus e o Diabo é um filme que gosto muito, mas a fotografia é MESMO uma coisa incômoda. No entanto, os outros filmes do Glauber já não possuem esse problema - nem o da câmera boba, algo que pelo que percebi, também te deixa nervoso.

Continuaremos a trocar ideias sobre nossos escritos.

Um abraço. E bom ano novo pra você.

Anônimo disse...

Ilustre Luiz Gustavo, consulte os trabalhos do sociólogo Nildo Viana sobre filme, tal como seu livro "Como assistir um filme?" e verá uma crítica ao que se convencionou chamar "cult". Ele até fez uma música "Eu sou Cult", com Edmilson Marques.

kiesow disse...

Ilustre "Anonimo".

Recomendo que consultes o verité europeu, principalmente francês, e veja como passar uma mensagem codificada inteligente utilizando um tripé para que a câmera não fique trêmula...

Fico muito triste quando dizem que não entendo Glauber Rocha, vocês me permitem entender e não gostar?

Anônimo disse...

Gostei dessa crítica construtiva sua, mas tu deve pensar que anteriormente o cinema brasileiro apresentava filmes péssimos (muitos dos quais passam no canal Brasil) parece que depois de Central do Brasil o cinema brasileiro começou a ficar relevante, mas adulto. Claro que acho que ainda estamos longe de um cinema perfeito, mas acho que um passo importante foi dado. A experimental é válida e pode dar ideias melhores a outros diretores. Falando de cinemas alternativos adoraria filmes israelenses, queria ver se comprava um sem legendas de Israel mesmo para ver. (acho que o que vem de lá continua sendo muito seletivo e limitado ao contexto político-religioso parece até que não se vive por lá hehe) Era isso gurizes abraços

Anônimo disse...

Fiquei com preguiça de logar...

Sou Juan Pablo Bolívar, brasileiro, mas nascido na Argentina.

Aprecio muito o cinema brasileiro, evoluido cada vez mais...

O meu comentário diz-se respeito a parte que faltou no seu post e que, como já deve maginar, se refere ao cinema Argentino.

Gostaria de saber sua opinião, pois para mim esta arte no país latino está muito mais desenvolvida e com belíssimos filmes, atores e diretores.

Acho que O Segredo Dos Seus Olhos ganhou merecidamente o Oscar. E também concordo que virará uma moda entre os cult e pseudocult, porém creio que quanto mais gente assistir a filmes bons, melhor.

Até entendo sua ira, mas creio que não devas se preocupar com isso... De repente se torna algo bom...

abraços e parabéns ao blog, é excelente.

Anônimo disse...

Caro Luiz Gustavo,

Como disse o Luiz Santiago, li seu texto com um misto de sentimentos. Mas, não vou me demorar sobre isso.
Antes de começar a dizer o que penso sobre a sua crítica, quero dizer que espero que seja possível um diálogo pacífico e inteligente com o pessoal que vem formando o "novo corpo crítico de cinema", com os blogs e a internet.

E aí, se me permite, incluo você e o Luiz Santiago.

Vamos lá. Em outro ponto, concordo com o Santiago, quando diz: "Primeiro: parabéns pelo olhar em relação aos modismos. E o mais legal foi a sua abordagem em relação aos que "gostam por tabela" de coisas que uma massa de cinéfilos gostam. Isso tem de monte, e também me irrita muito".

Entretanto, no que diz respeito ao Glauber Rocha e sua crítica, objetivamente, digo (com todo respeito do mundo), que talvez falte a você leitura sobre cinema. E quando digo leitura sobre cinema não dou enfoque à história (isso também, é importante. Sem dúvida), mas me refiro a ter mais leitura sobre linguagem, construção estética, teorias da imagem e vanguardas.

Achei sua crítica muito rasa e muito pobre.
Se a câmera é um pouco "estranha", se parece "mal feito", você poderia pesquisar e ler antes o porque disso. Aí saberia que é proposital e tem muitos motivos pra ser daquele jeito. E aí, provavelmente, sua crítica mudaria o posicionamento. Ainda que continuasse não gostando, pois é direito seu, faria uma crítica mais apurada.

Saberia também que o modo de trabalhar a câmera em Glauber tem uma consciência "motora" e seu trabalho com atores foi de tal forma refinado que diretores como Martin Scorsese, Bernardo Bertolucci, entre tantos outros, passaram a tê-lo como ídolo e referência de trabalho estético.

Então, em nome de uma crítica mais refinada, que se trate bem e que possa gerar bons frutos e ajudar aos leitores, vamos tentar estudar um pouco mais, ler um pouco mais, e (principalmente) APRENDER a ver um pouco mais para, a partir daí, analisar e criticar uma obra fílmica.

Porque, não sendo assim, tudo vira opinião. E, mais uma vez com todo respeito, opinião não tem valor algum pra quem busca uma informação respaldada. Pois quem tem boca (dedos) fala (escreve)o que quer.

Atenciosamente,

Alex Barbosa.

kiesow disse...

Respondendo ao Juan um ano depois. Desculpe a demora, e obrigado pelo comentário.

Não me vejo preparado para comentar o cinema argentino, me envergonho ao falar que conheço muito pouco sobre o cinema dos hermanos. O pouco que vi adorei, sou fã de o segredo dos seus olhos por exemplo.

Não me preocupo com pessoas que realmente apreciam qualquer "moda", só me frusto com aqueles que apenas seguem a tendência por seguir.

Abraço!

Pedro disse...

"...talvez eu apenas não tenha inteligência o suficiente"

Única que eu considerei do seu texto.

Anônimo disse...

Artigo ridículo. haha

faber disse...

cara, os filmes do glauber são bons, mas são uma experiencia diferente, de sensibilidade menos racional e menos neurotica. não desista de entende-lo não, porque não é uma questão de inteligencia, mas de pegar a onda...quando tu pegar, vai se divertir...vale a pena começar por Idade da Terra...

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